sábado, 22 de agosto de 2009

Memorial

NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA:



Nunca sei muito bem o que falar sobre mim.Alias detesto me auto - decifrar, sempre preferi não saber o que sou até porque penso que a minha busca nunca chegará ao fim, pois eu nem sei muito bem o que procuro...
A minha mãe é filha de agricultores e veio para Passo Fundo para escapar de um casamento forçado, coisa comum na época dela embora já fosse 1970.Quando chegou à cidade mal sabia ler e escrever, passou muita fome, muitas dificuldades, e encontrou o meu pai, filho mais velho, rejeitado consideravelmente pela família, era o capacho da casa.Então os dois, se apaixonaram e resolveram unir as suas histórias.Foram morar nos fundos da casa da minha avó paterna, que por sinal detestava a minha mãe.
Eu nasci um ano depois, no ano seguinte, dia 07 de maio de 1983, às 9 horas e 25 minutos, era véspera de dia das mães, estava chovendo e a lua era minguante.
Tudo muito bem, o meu avô paterno era um homem muito generoso e me adorava.Ensinou – me todas as estripulias possíveis até que um dia para meu desconsolo exatamente quando completei 1 ano ele veio a falecer e a minha vida se tornou um inferno nas mãos da minha avó.Como ela não gostava da minha mãe descontava sobre mim a sua fúria.Apanhava, era humilhada, pisoteada, assim como a minha mãe era...E o meu pai nem desconfiava, até por falta de coragem mesmo, não podia admitir que a sua querida mamãe maltratava ferozmente a própria neta.Quando a minha mãe engravidou do meu irmão, a situação ficou insustentável, ela comprou o terreno onde moramos hoje e nos mudamos mesmo antes da casa estar pronta eu tinha dois anos e o meu irmão havia completado um ano de vida.
Encontramos verdadeiros anjos a quem devemos a vida até hoje, os vizinhos sempre nos ajudaram, pois a minha mãe trabalhava e até hoje trabalha, à noite no Hospital São Vicente de Paulo, a Dona Zéli então prestava-nos o favor e o carinho que a nossa avó paterna nunca prestou, cuidava de mim e do meu irmão até que o meu pai chegasse do trabalho, ele era chapeador e o horário que saia do emprego, dava um desencontro de quase uma hora com o horário da minha mãe, tanto pela manhã quanto pela tarde.
Obriguei – me então, a deixar um pouco da infância de lado, para me proteger e cuidar do meu irmão.Confesso se não fosse essa minha avó postiça teríamos nos metido em muita confusão por aí.Os meus avós maternos sempre foram um doce, me dão força até hoje (embora já falecidos) estejam onde estiverem eu sei e levo o meu avô como meu anjo protetor para uma vida toda.
Os meus pais sempre nos apoiaram em tudo, mas principalmente quando se falava em estudar.Sempre estudei em escolas públicas, e sempre fui desse meu jeito “irreverente” como alguns dizem...
Passei por muita coisa já no que se trata a rejeição e humilhação, mas sempre me mantive de cabeça erguida, e segui em frente, pois acredito que a desistência é para os covardes e a minha família nunca foi de pessoas covardes nos fortalecemos no amor que temos uns pelos outros e no sangue que ferve nas nossas veias, “sangue dos de Mattos” com muito orgulho, o sangue da minha mãe com a paciência do meu pai.
Como dizia, meus pais sempre quiseram que seguíssemos os estudos para podermos ser alguém na vida.
Eu me enveredei pelo caminho das artes desde muito cedo, canto desde os meus 9 anos de idade e devo confessar que acho que não sei fazer mais nada direito na vida a não ser cantar.
Quando terminei o ensino médio no Cecy, fiquei um ano trabalhando como telefonista no Tchê aqua parque e a minha mãe ficou com medo que eu desistisse de estudar, ela não sabia que eu queria juntar dinheiro para fazer Música, e pediu que fizesse vestibular de uma vez.Como eu era inexperiente, fiquei apreensiva quanto ao preço do curso.Resolvi fazer Letras para não passar, e quem diria passei.
Começa outra luta, meus pais sempre pagaram a minha faculdade mas eu bem sei quanta necessidade passam por essa razão.Consegui uma bolsa no coral da UPF o desconto mensal era mínimo mas já era alguma coisa, o problema era que como bolsista você tinha que estar presente em todas as apresentações do coral, além do mais eu sempre troquei qualquer coisa pela arte.Foi difícil chegar até o meio do curso assim faltando quase sempre.Tenho que agradecer a muitas pessoas mas principalmente à professora Luciane Sturm, à Professora Daniela de David, e a professora Cláudia Toldo, eu consegui um PROPET, logo no segundo mês de faculdade, como professora de língua inglesa, e como não tinha experiência nenhuma a professora Daniela me dava matérias e até algumas aulas prontas, a professora Luciane por sua vez, meio que me adotou, deu – me a oportunidade de participar de muitos cursos, e às vezes, confesso, não entendia muita coisa tive que buscar muito conhecimento para poder entender os tais cursos até conseguir andar com as minhas próprias pernas, até hoje se tiver um curso de metodologia sinto como se a professora fosse me puxar pelas orelhas, ela é um presente na minha vida acadêmica, pois acreditou em mim mesmo quando nem eu acreditava mais.E a professora Cláudia me tirou do buraco quando eu já não sabia mais como fazer para continuar o curso, eu vendia pastel de porta em porta, dava aulas como PROPET,fazia bico em festas infantis, cantava em casamentos, e o dinheiro não dava para mais nada além da mensalidade do meu curso e a do meu irmão que faz Enfermagem.Resolvi inscrever – me na bolsa trabalho, e falei com a Cláudia que na época era coordenadora do curso de Letras, ela fez o que pôde, e ainda deu – me a oportunidade de uma outra bolsa de 50%.Comecei a trabalhar ano passado na SOCREBE, com uma bolsa de 70% e descobri o meu mundo, vi finalmente a arte que eu tanto busquei curso a fora e apoio total as minhas loucuras.Acabei achando a arte na Letras e assim, começo a aceitar o curso não só como mais um mas como forma de arte no centro do mundo, a arte da leitura, da escrita e da criatividade.Quero ser professora para provar para quem passar pelo meu caminho que sempre se ganha quando se procura algo com persistência, perseverança e coragem.Quero ter crianças ao meu lado para não me tornar louca e mal amada, como tantos podadores de sonhos por aí que se orgulham em acabar com a vida no fundo dos olhos que brota do coração das crianças e que por vezes nós adultos deixamos perder por aí.Quero ser considerada louca mas uma louca feliz e não doente com o coração de pedra.Eu sou a prova de que quando se quer se consegue.
A propósito, o próximo passo é a música, podem aguardar.
Então como já se notou fui construindo a Susana professora juntamente com a Susana artista, não sabendo de forma alguma separar as duas e valido dizer que eu não quero que haja essa separação, pois se algum dia isso acontecer estarei perdida e sozinha no meio do caminho.
Conforme a professora Luciane Sturm, ia dando – me a oportunidade de fazer vários cursos e de conhecer várias técnicas metodológicas acerca das atividades de um professor em sala de aula, fui descobrindo – me capaz e considerando – me um bom professor.Quero ressaltar que em todas as escolas que passei esse sempre foi o comentário, sempre me consideraram uma ótima profissional, deixando a desejar somente na questão das presenças uma vez que quando havia apresentação do coral da UPF eu tinha que faltar trabalho, pois eu tinha bolsa do coral e não achava justo receber uma bolsa e não cumprir minhas funções corretamente.
Sinto muito não ter aproveitado melhor os conhecimentos que tive nos cursos de metodologia de ensino da língua inglesa no meu estágio curricular de final de curso, talvez por falta de comunicação.Tenho a impressão de que o meu estágio teria sido muito mais proveitoso para mim e para as crianças. Vou falar, no entanto um pouco mais disso quando for tratar do embasamento do meu estágio que será o item a seguir.
“E que a minha loucura seja
perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.”.
(A Metade - Osvaldo Monte Negro)

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